POR GEORG WILHELM LAMBERT HAMERS
Sou da década de 20, do século passado ! Como qualquer garoto da época, sentia um fascínio intenso por automóveis. Meu interesse ia dos luxuosos Rolls-Royces, Bugattis e Mercedes , até os mais modestos Fords e Chevrolets. Os carros eram bem mais simples do que os de hoje. Nada de direção hidráulica, cambio automático ou freios à disco. Já tinham partida elétrica, freio nas quatro rodas e limpadores à vácuo ( aqueles que na subida, paravam de funcionar ) Câmbios sincronizados eram novidade e os motores de 6 ou 8 cilindros tinham imensas cilindradas. Os carburadores, distribuidores e bobinas eram sujeitos à falhas das mais diversas. Mas, tudo isto fazia parte do prazer de dirigir um carro.
Desde cedo eu já manobrava o carro de meu pai, um imenso “ REO”, com a conivência de seu “ chauffeur”, e lá pelos meus 13 anos, já trazia o carro do colégio até a esquina de casa.
Aos 18 anos prestei exame de motorista na cidade de Petrópolis, durante as férias de verão. Tirei o almejado documento que, na época, era de âmbito Estadual. Só valia no estado do Rio. Só anos mais tarde é que surgiu a |Carteira Nacional de Habilitação.
Com 18 anos e a carteira na mão, achei que já era hora de ter meu próprio carro. Mas, estourara a guerra de 1.939 e não havia mais gasolina disponível. O jeito era recorrer à instalação do chamado “ Gasogenio”, que, montado na traseira dos carros, gerava, pela combustão incompleta de carvão, um gás que fazia o motor funcionar. O motor perdia cerca de 50 % de sua potencia. Mas, mesmo assim, eu queria um carro só para mim.
Meu pai não colaborou muito com a idéia, mas não proibiu, Desta forma, com a ajuda financeira de minha mãe e minhas economias, sai à procura de um veículo.
Na época existiam muitos à venda, pois seus donos, sem poder usa-los, preferiam vende-los. Por fim, achei um velho Ford, cansado de guerra e com alguma ferrugem, mas em bom estado. Fechado o negócio com o Ford 1.933 , duas portas, ainda sobrou algum dinheiro para comprar um Gasogenio usado.
Um mecânico amigo deixou o carro em condições de uso, ao mesmo tempo em que eu adaptava o gasogenio. O aparelho consistia de um queimador com estrangulador na entrada de ar e um depósito para 70 kgs. de carvão. A distancia Rio – Petrópolis consumia 40 kgs. de carvão . O segundo estágio era um “ ciclone” e um complicado filtro com tela de bronze ou “bananas” de lona. Em seguida o gás passava por um depósito e um resfriador e por último, entrava num misturador que ficava no lugar do carburador. Existia ainda uma ventoinha para o início da combustão.
Depois de muito trabalho, algumas decepções e certas modificações, finalmente a engenhoca ficara perfeita e ... funcionou ! Meu velho Ford subia a Serra de Petrópolis com folga, tudo em terceira marcha, ultrapassando todos os outros carros que se arrastavam em segunda ou primeira , Serra acima.
A limpeza dos filtros era diária e causava sujeira por todos os lados. Com vento era um desastre ! Acertar o ponto do gás também levava tempo. Só a chama de um puro azul, permitia dar a partida.
Para assistir à sessão das 20,00 hs., precisava limpar o ciclone e filtros as 17,30, abastecer com carvão as 17,50, produzir gás as 18,15, ligar o motor as 18,30 e deixar ligado na porta de casa, enquanto tomava banho e trocava de roupas. Saia as 19,00 hs, pegava a namorada as 19,30, passava por alguns buracos para compactar o carvão dentro do queimador e chegava no cinema no Leblon à tempo.
A boa performance do carro compensou toda a trabalheira que dava. Planejava ainda, naquela época , montar um turbocompressor para potencializar aquela máquina, mas, com o fim da guerra e a volta da gasolina, desisti da idéia.
Finda a guerra e o racionamento de gasolina, recomeçou também a importação de carros dos Estados Unidos. Prontamente me inscrevi na fila, de uns seis meses, para a compra de um reluzente Oldsmobile 48. Quando este chegou, me desfiz da jóia do Ford 33.
Apesar dos muitos contras e decepções, aquela velha “limousine encrenqueira”, com todas as suas mazelas possíveis, deu muita alegria e deixou um MAR DE SAUDADES ! Arrependo-me de te-la vendido. Hoje, seria um verdadeiro SHOW !
Nas Fotos abaixo, o Sr. Georg Hamers com seu Ford 33 movido a gasogenio.
O Sr. Georg Hamers é o sócio de nº 710 do Clube do Fordinho
e reside na Cidade de Petrópolis – RJ.
Nossos agradecimentos.